21 março 2012

No dia mundial da poesia



O sono retirou-se do meu
corpo e as cigarras
atormentam as minhas noites.
Depois de teres
partido, os lençóis da cama
são como limos frios
que se agarram à pele.
Porém, se me levanto,
não faço mais do que arrastar
a solidão pela casa;

talvez procure ainda um
gesto teu nos braços
do silêncio, como um pombo
cego a debicar
as sombras na única praça
deserta da cidade -

o amor nunca aprendeu a ler
nas linhas da mão.

MARIA DO ROSÁRIO PEDREIRA,
in O CANTO DO VENTO DOS CIPRESTES (Gótica, 2001)


Foto de José M G Pereira

04 março 2012

balanço #2


As minhas passagens pelas escolas com o Bicho de sete cabeças não têm deixado de me surpreender.
Desta vez quero falar-vos da minha passagem pelo CEF – Centro de Estudos de Fátima. Tenho alguma dificuldade em resumir o que por lá aconteceu no passado dia 24 de fevereiro, tantas foram as emoções, as surpresas, o talento e o empenho que pude vivenciar e apreciar.
Tudo começou quando uma menina saiu de um Baú de Histórias com um livro nas mãos.
A história que ela ia contar era a do “Bicho de sete cabeças” e foi adaptada para teatro pela incansável Prof.ª Marlene Frazão, coordenadora Clube de Português do CEF, apoiada pelos professores Tomé Vieira e Filomena Vieira.






O anfiteatro estava cheio de alunos, desde o 1.º Ciclo até ao Secundário e foi maravilhoso ver que todos estavam atentos à atuação dos seus colegas e que, no final, alunos de todas as idades tinham perguntas para me fazer.
Para quem já conhece a história e me conhece a mim, o que posso eu dizer para vos mostrar quão importante foi esta tarde, em Fátima?







Que o Bicho de sete cabeças era mais alto do que eu e me ofereceu um ramo de flores enquanto eu escolhia uma das suas 14 faces para beijar.
Que o cenário foi realizado com mestria pela Prof.ª de Educação Visual Rosalina Sousa e os seus alunos, com base nas ilustrações de Sandra Serra.
Que no final da peça se juntaram ao elenco principal os alunos de percussão do Prof. Jorge Gonçalves e alguns alunos do 1.º Ciclo, com coloridos balões, tal e qual como no livro.
Que a história foi brilhantemente adaptada para teatro, como eu nunca imaginei que fosse possível, com a sonoplastia a cargo do Prof. José Lourenço a ajudar.

Que a sessão de autógrafos foi feita, pela primeira vez na minha vida, dentro da casa do Ourives Aristides.
Que os alunos fizeram perguntas interessantes e que até me deram algumas ideias a reter.
Resumindo, posso dizer que um encontro feito a pretexto de leituras, livros e valores, se transformou num encontro de afetos, com muita alegria da minha parte.


Talvez me esteja a repetir, mas não posso deixar de dizer que, até hoje, todas as minhas experiências com escolas, corpos docente, não-docente e discente das mesmas, têm sido fenomenais.
A todos, todos mesmo, muito obrigada!